Quem faz maratona na Mostra sabe bem que é impossível assistir a tudo o que se deseja. Pior: às vezes é preciso abrir mão de alguns filmes que são apostas mais certeiras por conta das limitações de horários. Hoje eu não estaria disponível até 15h, e por isso minha programação teve muitas restrições. Eu sabia que dentre minhas opções, queria muito ver 5 Mulheres, um drama alemão de um diretor estreante, porque achei a premissa promissora. A partir daí, a única opção que eu tinha para assistir antes era o drama brasileiro Leste Oeste, dirigido também por um estreante, Rodrigo Grota. Não dei prioridade, esse ano, aos brasileiros, porque é certo que terei a oportunidade de vê-los depois no circuito comercial. E confesso que não me interessei muito com a sinopse. Mas apostar em filmes dos quais não se ouviu nada a respeito é um risco que se compensa, às vezes. Não foi o caso hoje. Há aspectos interessantes a serem considerados, no entanto. Vamos a eles.
LESTE OESTE (2016)
Ezequiel é um ex-piloto que retorna à sua cidade natal para uma última corrida. Lá ele vai se reencontrar com o pai, com quem tem um relação difícil, com a cunhada, que perdeu o marido anos atrás em um acidente de corrida, e seu sobrinho, que participa de corridas de kart.
A primeira cena do filme é emblemática: um diálogo tenso e enigmático entre Ezequiel e sua cunhada, Stela. O diálogo, que na verdade é praticamente um monólogo de Stela, não explica nada para o espectador, apesar de deixar algumas vagas pistas. Todo o filme é formado por um compilado de pequenos diálogos assim. Eles não esclarecem nada, e ao invés de provocarem curiosidade, geram confusão no espectador. Há um problema sério de roteiro, direção e edição. Muitos planos não fazem sentido, enquadramentos não dizem nada, diálogos soam falsos ou desnecessários. Algumas frases feitas chegam a ser constrangedoras de tão ruins. As atuações, em geral, ou são exageradas ou muito amadoras. Salvam-se Felipe Kannemberg, que interpreta o protagonista Ezequiel, e José Maschio, que faz seu pai, Ângelo. A melhor parte do filme é o fim, que esbanja poesia e é realmente tocante. Não fosse o fato de ele não fazer sentido, vista a forma como a história foi contada até ali, seria uma excelente conclusão.
5 MULHERES (5 FRAUEN, 2016)
Cinco amigas se reúnem em uma casa de campo na França para três dias sem os namorados ou maridos. Uma delas não chega até o segundo dia, quando o clima tenso se explica por um acontecimento imprevisto e trágico ma noite anterior. Drogas e o retorno ao passado sombrio de uma delas levam a um ato inconsequente que vai desencadear uma série de catarses e tomadas difíceis de decisão.
O diretor e roteirista Olaf Kraemer faz uma boa estreia nesse longa metragem, rebatendo qualquer ceticismo que se possa ter pelo fato de estar contando a história de cinco mulheres. Há que se entender a suspeita em relação ao quão verossímil seria esse retrato, mas não há como negar que há muita sensibilidade e comedimento no que diz respeito à abordagem desses personagens. De fato, é notável que o diretor tenha uma preocupação real em relação a questões importantes, como estupro e sexo, por exemplo, e as aborde de forma bastante satisfatória.
Os personagens bem fundamentados são agraciados, todos eles, com ótimas atuações. Também é admirável o fato de o filme ter sido realizado em tão pouco tempo (vinte dias de produção) com um orçamento tão baixo (300 mil euros). Em nenhum momento essas restrições transparecem. É perceptível o empenho de toda a equipe e elenco em entregar um thriller instigante, tenso e com uma boa storyline. Ainda que não haja aqui nada novo ou genial, 5 Mulheres é um filme acima da média, que trata de questões relevantes de maneira nada preconceituosa ou caricata.Um boa surpresa.